31 maio 2011

Rock'n'Roll: Capítulo I


Trazidos da África para Américas do Norte e Sul
Tambor de tinto timbre tanto tonto tom tocou
E neve, garça branca, valsa do Danúbio Azul
Tonta de tanto embalo, num estalo desmaiou

Vertigem verga, a virgem branca tomba sob o Sol
Rachado em mil raios pelo machado de Xangô
E assim gerados, a rumba, o mambo, o samba, o rhythm'n'blues
Tornaram-se os ancestrais, os pais do ROCK AND ROLL!

29 maio 2011

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá.
Que a fé tá na mulher
A fé tá na cobra coral
Num pedaço de pão...
A fé tá na maré
Na lâmina de um punhal
Na luz, na escuridão
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Ô menina!
A fé tá na manhã
A fé tá no anoitecer
No calor do verão...
A fé tá viva e sã
A fé também tá pra morrer
Triste na solidão
Mas menina,
Certo ou errado até
A fé vai onde quer que eu vá
A pé ou de avião...
Mesmo a quem não tem fé
A fé costuma acompanhar
Pelo sim, pelo não...
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá.

06 maio 2011

Uma carta de amor (Sweet lies)

Há muito tempo, prometi (e promessa, é divida) uma carta a uma moça. Dias vão, dias vem, ela não recebeu a tão esperada "carta".
Pensei muito no que escrever. Nenhuma das cartas, me agradavam. Se agradariam a ela, não sei... Pensei, pensei e pensei.
- Cavalheiros! Vamos a decisão: A VERDADE, é que nenhuma delas me agradavam. Nenhuma. Nunca, ouçam bem, NUNCA foi tão difícil escrever para uma mulher...
Mas um dia desses qualquer, achei algo mais ou menos assim: "Olha! Eu te desejo tanto, que perdi o recado. Nada temo, TREMO! Sou poeta devasso adorando a tua raça.". E achei incrível como uma frase se encaixou perfeitamente naquilo em que eu gostaria de dizer. Mas não tinha palavras...
Bom, um poema e poucos dias, não fazem uma carta. Não a sua!
Resolvi ir além. Me abstraí. E aconteceu que a passei a ocupar meus dias pensando sobre o que, afinal, é isso que todo mundo enche a boca para chamar de AMOR. Como se fosse algo simplificado, entende? - "Defina em meia dúzia de frases". É fácil querida!
É fácil? Ah! [...] - Não foi nada fácil escrever para você. E ainda assim, eu não consigo entender como uma palavrinha simples (até demais!), formada por duas vogais e duas consoantes, pode absorver um universo de sensações contraditórias, diabólicas, insensatas, incandescentes e intraduzíveis...
O que é o AMOR!?!
Já tentei explicar a mim mesmo. E por mais que tente, jamais conseguirei atingir a essência dessa anarquia que dispensa palavras.
- Anarquia! [...] Viver! Viver! Viver!
Sonhar, amar e ser livre! Porque liberdade é uma palavrinha que o sonho humano adventa, não há ninguém que explique e ninguém - Ouçam bem - Ninguém que não entenda.
Então... Seria o amor, a liberdade?
Amar prescinde de entendimento. Por isso, talvez eu não saiba amar. Porque sou viciado em entender.
E como todo pisciano, sou também viciado em sonhar. E sonho com o amor! E acho, ainda, que estamos todos no momento em que chegou a hora de amar desesperadamente, apaixonadamente, descontroladamente... De te arrancar o vestido, dominá-la e...
Talvez esta carta tenha chegado atrasada mesmo... Como aquele trem que sempre atrasa na estação. Do último horário... Mas que CHEGA.
E então, com sorte, quem sabe eu consigo aceitar que no amor não exite moral da história, enfim.
GABRIEL REBELO RODRIGUES - 2011

20 março 2011

Meditação


Quem acreditou no amor, no sorriso, na flor,
Então sonhou, sonhou...
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais.
Quem, no coração
Abrigou a tristeza de ver tudo isto se perder
E, na solidão
Procurou um caminho e seguiu,
Já descrente de um dia feliz.
Quem chorou, chorou
E tanto que seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
E a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou.

17 março 2011

Baseado em fatos reais



Ah! Como eu queria ser um baseado;
para ser enrolado pelos seus dedos,
ser tocado pela sua boca,
e fazer a sua cabeça.
Porque amar e não ser amado,
é como fumar um baseado
e não ficar chapado!

14 março 2011

Não Adianta


Não adianta,
não adianta nada ver a banda,
tocando "A Banda" em frente da varanda.
Não adianta o mar,
e nem a sua dor.
Não adianta,
não adianta o bonde, a esperança,
e nem voltar um dia a ser criança,
e o sonho acabou.
E o que adiantou?
Não tenho pressa.
Mas tenho um preço.
E todos têm um preço,
e tenho um canto,
um velho endereço,
o resto é com vocês,
o resto não tem vez.
O que importa,
é que já não me importa, o que importa,
é que ninguém bateu em minha porta,
é que ninguém morreu,
ninguém morreu por mim.
Não quero nada,
não deixo nada, que não tenho nada,
só tenho o que me falta e o que me basta,
no mais é ficar só,
eu quero ficar só.
Não adianta,
não adianta, que não adianta,
não é preciso, que não é preciso.
Então pra que chorar?
Então pra que chorar?
Quem está no fogo está pra se queimar.
Então pra que chorar?

20 fevereiro 2011

Veneno

O beijoAlinhar ao centro
Era realmente flerte, apenas flerte, na sua forma mais inócua e clássica, ou seja, a distância. Limitavem-se a olhares que, entretanto, eram de uma delícia mortal. Mas jamais haviam trocado uma palavra, um aperto de mão, uma carícia. A desquitada que estava no caso esportivamente, sem nenhum interesse, já resmungava: "Vocês estão bobeando! Ah, se fosse comigo!" Marina sofria, a verdade é que sofria. Até então julgara-se feliz e, de repente, descobre que sua felicidade não existe, nunca existira. Tinha agora abstrações, melancolias; um perfume a fazia chorar ou desfalecer. Acabou admitindo para a desquitada:
- Amo este homem - e repetiu, numa espécie de angústia: - Amo.
A desquitada a instigou:
- Mergulha de cara! Mergulha de cara!
E, uma noite, pouco antes do jantar, aconteceu uma fatalidade deliciosa e terrível. Cruzou no corredor com o bem-amado. Tudo aconteceu de uma maneira irresistível. Sem uma palavra. Gustavo se apoderou de sua mão e a beijou, longamente. Foi um minuto ou muito menos. Mas ela saiu dali numa embriaguez completa. E o que tornava sua delícia mais aguda era o sentimento do pecado. Correu à amiga, pois sentia a necessidade imediata de uma confidência. Contou que Gustavo a beijara na mão... A fulana exclamou, abismada:
- Na mão?
Confirmou, convulsa: "Pois é." Fez a outra pôr a mão no seu peito, para sentir as palpitações furiosas. Mas a desquitada parecia insatisfeita: "Vocês são dois moscas-mortas. Ora veja!" Para Marina, porém o episódio se revestia de um significado terrível. Pela primeira vez o caso saía da espiritualidade pura e se materializava. Foi nessa noite que o marido recebeu um chamado. A desquitada esfregou as mão:
- Está para ti. É agora ou nunca!
O fato
O marido partiu. E à noite, no corredor do hotel, Gustavo pedira um "papinho", no jardim. Marina teve de esperar que a filha, que dormia com uma coleguinha, se recolhesse. Até o último momento, teve um pavor: "Será que ela vai cismar de dormir comigo?" Felizmente a menina, foi, com a colega, para o quarto. Então, deslizou, como uma criminosa, com o coração aos pinotes e uma sensação de crime. Parecia-lhe, então, que jamais tivera qualquer amor, qualquer carinho, qualquer afinidade com o marido. Pensava nele como o último dos estranhos. Ficou no jardim com o Gustavo uma meia hora. Desde o primeiro instante, sentiu-se frágil, indefesa, derrotada. Lembrava-se de que o marido voltaria no dia seguinte e que só lhe restava uma noite livre. Esta urgência do pecado era fascinadora. Por outro lado, Gustavo foi ativo, ousado, quase brutal. E a deslumbrou com um argumento de cinismo absoluto: "Uma vez só. Uma vez, não são todas." Ela hesitava, embora sabendo que se abandonaria. Na verdade, resistia a ideia de captular sem luta, sem conquista, sem namoro. Imóvel, ia escutando:
- Deixa a porta encostada, apenas encostada. À meia noite, eu vou lá e... sim?
Respondeu num sopro:
- Sim.
Voltou, correndo. Mas o deslumbramente inicial se extinguira. O que havia, no mais íntimo de sí mesma, era uma angústia intolerável, a vontade de fugir e, ao mesmo tempo, um ressentimento contra o marido que não se fizera amar. Pensava também na filha. "Imagina se ela sabe, imagina!" De repente, aparece a desquitada e, ao saber que está tudo combinado, pisca o olho: "Felicidades!" E sai. À meia noite, em ponto, Gustavo empurra a porta encostada.
Abandonou-se. Primeiro, ele a beijou na boca; depois no pescoço e desceu para o seio. Fez-lhe carícias que ela não conhecia.
O remédio
Marina acordou tarde. Toda a sua angústia desaparecera; estava, de novo, feliz e com a sensação de que só agora começava a viver. Levantou-se, pôs as chinelinhas róseas e na camisola muito leve, que era quase uma nudez, correu ao espelho, como se quisesse ver a própria imagem depois do pecado. E, pelo espelho, viu quando Teresinha entrou. Trazia um copo, com um líquido qualquer. Marina virou-se, mas a simples presença da filha feriu de morte todo o seu encanto de viver. Estavam as duas, no meio do quarto, face a face. Até aquele momento, havia entre mãe e filha uma polidez que era o disfarce de um sentimento mais turvo, mais profundo e mais envenenado. E, pela primeira vez, ambas viam o rosto verdadeiro da outra. Naquele instante, ocorreu novamente a Marina a explicação espírita de que em outras encarnações... Então, com o rosto erguido, quase sem mover os lábios, Teresinha foi dizendo:
- Eu me escondi detrás do guarda-vestidos... Fiquei lá a noite toda... - E repetiu trincando nos dentes as palavras: - Detrás do guarda-vestidos...
O dilema
Marina sentiu que a mentira seria inútil. Teve um brusco pavor daquela filha. Foi fraca, pusilânime, indefesa. Perguntou:
- Que queres que eu faça?
A resposta veio, sumária, quase doce: "Bebe isto." Não compreendeu, imediatamente. Apanhou o copo; ergueu-o contra a luz. Tornou a perguntar: "Mas isso é o quê?" E a outra, com os lábios meigos:
- Veneno.
Recuou, aterrada, sem coragem de atirar longe aquele copo, de parti-lo em mil estilhaços. Sentiu-se agarrada. Teresinha dizia-lhe: "Então, bebo eu. Ou tu, ou eu. Uma de nós tem de beber." Marina olhou, com assombro, o líquido, claro, enquanto a filha repetia:
- Ou tu, ou eu.
Marina fechou os olhos, foi bebendo, até o fim. Largou, então, o copo que se estilhaçou no chão.